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Foto do escritorpor Rica Inocente

Vacinas e aprovações: quando vamos ter uma resposta?

O que você precisa saber sobre a reta final dos imunizantes

Situações excepcionais nos forçam a medidas inesperadas, e 2020 pode se resumir a isso (Foto: Unsplash)
Situações excepcionais nos forçam a medidas inesperadas, e 2020 pode se resumir a isso (Foto: Unsplash)

2021 se aproxima e os prazos estipulados pelas farmacêuticas para entregar as vacinas contra o Covid-19 também. Isso deve ser o motivo da enxurrada de notícias que vimos nos últimos dias, sobre eficácias e fechamento de acordos.


Nas semanas que se passaram, acompanhamos as discussões e as declaraçẽos oficiais do governo a respeito dos imunizantes que vem para ajudar no combate e na disseminação do novo coronavírus.


Mas de matéria em matéria, você sabe sobre o que estão falando?


Acho que nunca houve um acompanhamento tão grande em cima do desenvolvimento de um medicamento como há nos dias de hoje. Para ser sincera, a pessoa que vos escreve nunca teve interesse em saber sobre o desenvolvimento de vacinas, contudo, hoje sabe que existem diversos tipos de produção de imunizantes e como cada um age no organismo.


A alguns meses o por Rica Inocente trabalhou um outro conteúdo falando sobre isso, o “O que você precisa saber sobre as vacinas do Covid-19?” que fez um ‘resumão’ de todas as informações que você devia saber naquela época. Lá, inclusive, detalha os tipos de imunizantes que podem ser produzidos e como eles atuam. Assim como questões burocráticas e disputas políticas.


Mas hoje o cenário é diferente, então você precisa de um conteúdo atualizado que te ajude a compreender o que está acontecendo e por isso, o blog vem falar sobre a reta final dos medicamentos e o que devemos ver nas próximas semanas.


Vacinas promissoras

No começo da corrida por uma solução, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou que mais de 179 produtos estavam sendo desenvolvidos com o intuito de combater a pandemia. Mas de pesquisa em pesquisa, hoje chegamos a marca de 5 imunizantes que oferecem mais segurança, sendo os mais promissores para ser usado na população.


Entre as candidatas estão a da Universidade de Oxford com a AstraZeneca, a da Pfizer, desenvolvida com ajuda da empresa alemã BioNtech, a Moderna, com o Instituto Nacional da Saúde dos EUA, a Coronavac, da chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan e a Sputnik V, russa do Instituto Gamaleya.


Elas estão na reta final de pesquisas e testes e podem chegar na mão da população entre o final de dezembro e o começo de 2021. Lembrando que qualquer uma, independente do resultado apresentado, precisa de aprovação dos órgãos de fiscalização de cada país para que sejam aplicadas na população.


Sendo assim, como elas estão recebendo o seu momento de fama, o por Rica Inocente pensou em preparar um “Ficha Técnica” desses imunizantes, junto com algumas informações que você precisa tem em mãos.


Ficha técnica


  • Pfizer/BioNtech

Primeira impressão: de acordo com o que já foi apresentado, a vacina é uma das mais adiantadas, rápidas e fáceis de serem produzidas. Porém, elas precisam ser armazenadas em uma temperatura de -70ºC;


Eficácia: o diferencial dela é que a vacina foi a primeira a apresentar números de eficácia com plena validade estatística, oferecendo 95% de efetividade. O resultado dos testes se manteve constante nos diferentes pacientes que foram voluntários no estudo;


Valor: a estimativa é que ela chegue ao mercado custando € 15, cerca de R$ 96, por dose;


Armazenamento e logística: contudo, o seu maior problema é que o item deve ser armazenado a -70ºC para não perder suas propriedades de combate ao vírus. A farmacêutica está tentando desenvolver estratégias que solucionem esse problema com a ajuda de contêineres com gelo seco, que pode garantir as vacinas por até 15 dias;


  • Moderna (EUA)

Primeira impressão: diferente da Pfizer, a Moderna pode ser armazenada em freezers regulares, além de ser um produto fácil e rápido de ser produzido. Por outro lado, ela ainda precisa apresentar mais testes e não há uma previsão de chegada ao Brasil;


Eficácia: apresenta eficiência de até 94,5% de acordo com a primeira análise verificada, que contou com a participação de 30 mil pessoas nos EUA;


Valor: a Moderna está sendo cotada a € 21, o que significa R$ 135 por dose;


Armazenamento e logística: os resultados mostram que a vacina experimental pode aguentar até seis meses a -20ºC e até 30 dias em geladeiras comuns, com temperaturas de 2 a 8 graus;


  • Oxford/AstraZeneca

Primeira impressão: uma das mais esperadas, a “Vacina de Oxford” é desenvolvida a partir de um vírus incapaz de prejudicas a saúde e essa tecnologia apresentou bons resultados, sendo que o Brasil vem negociando com os fabricantes para adquirir alguns lotes. Mas a técnica utilizada é nova no mercado e por isso causa certa insegurança;


Eficácia: os resultados apresentados no dia 23 de novembro mostraram uma eficácia de até 90% com voluntários que receberam primeiro meia dose e, depois de um mês, uma dose completa. Para os que tomaram duas doses completas a efetividade caiu para 62%. Os testes finais vão ser realizados com 24 mil pessoas e os pesquisadores vão observar se a ação de 90% de mantém;


Valor: a britânica deve chegar ao mercado custando € 3, R$ 19, por dose;


Armazenamento e logística: as pesquisas mostram que a sua versão experimental pode ser armazenada em freezers, de 2 a 8 graus;


  • Coronavac (Sinovac e Instituto Butantan)

Primeira impressão: os institutos optaram pelo método mais tradicional de produção, o vírus inativado, além de não precisar ser conservada em locais muito frios. Por outro lado, o seu desenvolvimento é mais demorado, exige fábricas tecnológicas, com equipamentos específicos;


Eficácia: os testes mostram que ela é segura e capaz de produzir resposta imune ao vírus após 28 dias de aplicação. O resultado positivo se mostrou em 97% dos casos;


Valor: as empresas responsáveis pela Coronavac ainda não divulgaram um valor;


Armazenamento e logística: o medicamento pode ser armazenado em temperaturas de 2 a 8 graus e se mantém estável por até 3 anos;


  • Sputnik V (Instituto Gamaleya)

Primeira impressão: a vacina russa teve uma grande repercussão na mídia quando foi anunciado no final de agosto que ela estava “pronta” para ser usada. Obviamente a comunidade científica ficou impactada devido a falta de pesquisas sobre o desenvolvimento dela. Mas em setembro, um estudo preliminar publicado na revista Lancet, mostrou que ela induz resposta imune ao vírus e não apresenta efeitos adversos graves;


Eficácia: possui 95% de eficiência após 42 dias da aplicação da primeira dose. Um segundo estudo apresentado mostra que a vacina oferece eficácia de 91,4% com 28 dias;


Preço: através do Twitter, o instituto responsável pelo imunizante afirmou que o preço será menos de US$ 20 por pessoa, sendo que os russos terão acesso gratuito ao medicamento;


Armazenamento e logística: o produto deve ser guardado em temperaturas de -18ºC, mas os responsáveis estudam um processo de liofilização, que desidrata a vacina e permite que ela seja armazenada em temperaturas normais;


Como elas funcionam?

Como eu disse lá encima, e também nesta publicação aqui, existem diversas formas de produzir uma vacina e cada uma trabalha de uma forma para combater o vírus no nosso sistema.


Para entender isso, acompanha esse raciocínio:

  • em janeiro extraíram do vírus as suas informações genéticas, o RNA, que foi sequenciado. Essa sequência apresenta 29.903 letras, que são as variações da combinação dos caracteres A, U, G e C, que são uma espécie de chave que o coronavírus usa para atacar as células do corpo e se replicar;

  • desse número, 3.831 letras foram identificadas e elas detêm o código para fabricar as proteínas da espícula do vírus, a porta de entrada para as células;

  • essas etapas foram utilizadas como base para criar a vacina da Moderna, da Pfizer e da Oxford;


Mas isso não é tudo;


  • Moderna e Pfizer

Depois dessa primeira parte descrita acima, a mensagem é codificada em uma molécula de RNA, que por sua vez é encapsulada em uma membrana lipídica, para que possa entrar nas células do corpo.


Quando injetadas, o RNA entra nas partículas e faz com que elas produzam proteínas da espícula do coronavírus.


  • Oxford

Nesse caso, a mensagem é traduzida em DNA, outra linguagem genética, e depois introduzida em um adenovírus comum de chimpanzé. Quando inserida no corpo, o DNA se transforma em RNA dentro do núcleo da célula e faz com que elas produzam proteínas virais.



Nos dois casos, quando a vacina está no organismo, a espícula do vírus é localizada pelas células dendríticas (que protegem o corpo) e as apresentam ao sistema linfático. Daí surgem as respostas imune, que produzem dois tipos de glóbulos brancos para combater a infecção:

  1. linfócitos B: criam anticorpos que bloqueiam o vírus;

  2. linfócitos T: destroem células infectadas;

Já a Coronavac ela foi desenvolvida com base no próprio vírus do Covid-19. Os cientistas criaram uma cultura do vírus em laboratório e inativaram a parte que nos deixa doente. Assim, quando injetada no corpo, ela estimula a produção de anticorpos pelo organismo, prevenindo os sintomas graves da doença.


O ponto positivo dessa técnica é que ela oferece a possibilidade do corpo produzir anticorpos específicos para a infecção, garantindo um combate mais eficiente do coronavírus.


Quanto à Sputnik V ela tem uma tecnologia própria do Instituto Gamaleya. O imunizante utilizada o método de dois vetores. Mas o que é isso?


Um vetor é um vírus que não tem o gene da reprodução e pode ser usado para transportar o material genético da doença contra o qual o medicamento está sendo desenvolvido a uma célula. Essa técnica é baseada nos vetores do adenovírus que causam infecções respiratórias agudas.


Com isso, um gene que codifica a proteína S dos espinhos do vírus do Covid-19 é inserido em cada condutor. Esses “espinhos” são a “coroa” que deu o nome ao coronavírus e com a ajuda deles, ele entra nas células do corpo, causando a infecção.


A vacina russa trabalha em duas fases:

  • 1ª vacinação: o vetor com o gene que codifica a proteína S do vírus entra na célula do corpo e o organismo sintetiza a proteína, produzindo a imunidade a doença;

  • 2ª vacinação: nessa etapa, 21 dias depois da primeira, é injetado um adenoviral diferente, que é desconhecido ao sistema imunológico, estimulando uma resposta do corpo, garantindo imunidade a longo prazo;


Em todos os casos, os imunizantes estimulam o corpo a criar meios de expulsar a infecção do organismo e criar barreiras para impedir uma nova contaminação.


Qual parece mais atraente?

Com todas essas informações em mãos, agora precisamos avaliar qual opção é mais viável. Aqui, dois pontos precisam ser avaliados, a questão do valor e do armazenamento e logística.


Em relação aos valores, o custo de cada dose pode variar até o final das pesquisas, mas os preços iniciais seriam para países desenvolvidos. Para os em desenvolvimento ou os mais pobres, os números seriam revistos, assim como a forma de acesso aos medicamentos, democratizando a distribuição em todos os continentes.


O maior problema até então está sendo a questão da temperatura de armazenamento, já que a humanidade nunca lidou com uma situação dessas anteriormente. O clima exigido para a conservação e a logística de envio a todos os continentes impossibilita a estratégia de vacinação.


A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) já havia alertado sobre a incapacidade dos países das Américas em receber vacinas baseadas em RNA, que necessitam das temperaturas mais baixas, como é o caso da Pfizer, que exige -70ºC para a sua conservação.


Mesmo que as farmacêuticas estudem uma forma de lidar com essa barreira, o Brasil terá que avaliar entre as mais promissoras uma vacina que seja viável e que atenda as necessidades do território brasileiro. Ao ver do blog, a Oxford e a Coronavac são as mais indicadas para imunizar a população do país.


Quais são as previsões?

O avanço das pesquisas e os resultados positivos motivaram governos e empresas a buscarem por parcerias para começar a venda e distribuição dos imunizantes, a fim de combater o novo coronavírus.


Em agosto, o Governo Federal liberou um crédito de 1,9 bilhões para a produção e aquisição de 100 milhões da vacina de Oxford. Já o Governo do Estado de São Paulo fechou um acordo de compra de 46 milhões de doses da Coronavac. Na época, 6 milhões de doses haviam chegado prontas da China e mais 120 mil estavam prontas em São Paulo, aguardando a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).


O Ministério da Saúde anunciou em outubro que iriam comprar mais 46 milhões doses da Coronavac, mas a afirmação causou revolta no governo Bolsonaro, e fez com que a pasta voltasse atrás. Na mesma época, João Doria, governador de São Paulo, se colocou à disposição de comprar 100 milhões de vacinas, mesmo sem verba federal.

Na manhã de ontem, 03 de novembro, o aeroporto de Guarulhos recebeu um lote de 600 litros de matéria prima da Coronavac. Os produtos recebidos possibilitam o desenvolvimento de até 1 milhão de doses.


O diretor do Instituto Butantan, que está participando das pesquisas e desenvolvimento da vacina chinesa, Dimas Covas, acredita que o medicamento possa ser disponibilizado para a população até janeiro de 2021, com autorização da Anvisa.


Mas ela não é a única que está sendo negociada. No final de novembro a Moderna entrou com um pedido de autorização para uso emergencial do medicamento em território americano. A agência reguladora do país, Food and Drug Administration (FDA), marcou uma reunião com farmacêutica para as próximas semanas.


No encontro eles devem discutir sobre o estudo completo e a eficácia da vacina que teve um resultado positivo. O New York Times apurou que caso seja aprovada, os americanos podem começar a receber a vacina no dia 21 de dezembro. A empresa pretende pedir autorização na Europa também para distribuir o medicamento.

Já, no dia 02 de dezembro, tivemos o anúncio da primeira aprovação de vacina. O Ministro de Saúde britânico, Matt Hancock, anunciou a autorização do imunizante da Pfizer. A campanha deve começar na próxima semana e o serviço público de saúde britânico, a NHS, vai disponibilizar 10 milhões de doses para vacinar a população.


A farmacêutica americana, junto com o laboratório BioNtech, já tinha entrado com um pedido de autorização para uso da vacina em toda a Europa. A decisão deve sair até o dia 29 de dezembro.


Fora isso, os países que aderiram a Covax Facility, vão ter a oportunidades de ter acesso às vacinas produzidas para combater o Covid-19. A ação tem como objetivo promover a produção e o acesso globa a um imunizante para lidar com pandemia. A frente do projeto, a Aliança Gavi ficará responsável por negociar com os laboratórios os valores e as entregas.


O que o Brasil pretende fazer?

O nosso querido país tem negociaçẽos ativas com diversos laboratórios, mas ainda não oficializou nenhum plano para vacinação em massa. Na terça-feira, 1º de dezembro, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde afirmou que o país só terá uma estratégia quando houver vacinas registradas na Anvisa.


Arnaldo Medeiros, o secretário, pontuou algumas exigências que a vacina adquirida pelo Brasil deve ter e entre elas estão:

  • ser termoestável e não precisar ficar estocada em locais com temperaturas extremamente baixas, o que é o caso da Pfizer;

  • apresentar dados de segurança, eficácia, possibilidade de uso em todos os grupos de pessoas, dose única e baixo custo de produção;

Antes disso, no dia 27 de novembro, o Ministério da Saúde já havia informado que não vacinaria toda a população e os porta-vozes do Programa Nacional de Imunização (PNI) reforçou a declaração, afirmando que, como alguns grupos não participaram dos testes realizados pelas farmacêuticas, não seria possível vacinar toda a população.

Contudo, no dia 1º, a Câmara Técnica responsável pela elaboração do plano de vacinação, apresentou uma “estratégia preliminar” que pode ser colocada em prática caso o Anvisa aprove alguma vacina.


O plano consiste em quatro fases e pode atingir até 109,5 milhões de pessoas. A imunização aconteceria da seguinte forma:

  1. Primeira etapa: trabalhadores da saúde, população idosa a partir dos 75 anos, pessoas com 60 anos ou mais que vivem em casas de repouso ou instituições de saúde e população indígena;

  2. Segunda etapa: pessoas de 60 a 74 anos;

  3. Terceira etapa: pessoas com doenças pré-existentes que podem agravar o quadro da Covid-19;

  4. Quarta fase: professores, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e os detentos;


Como pode ver, os cidadãos “comuns” ainda não estão inclusos no plano, mas isso não deve acontecer tão cedo. Primeiro por causa da logística de distribuição e segundo por causa da quantidade de medicamentos adquiridos.


Uma previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que a imunização global ainda leve uns dois anos para acontecer e que até lá a população terá que aprender a lidar com as medidas de segurança, como o distanciamento, máscaras e álcool em gel.

O relaxamento do isolamento social tem levado a novos casos de coronavírus e muitos hospitais estão registrando uma alta de internação, correndo o risco de voltar a superlotação. Diante do crescimento, muitos estados voltaram com as medidas de restrição. O estado de São Paulo impôs a retomada a fase amarela do plano de reabertura em diversas cidades.


No mundo também é possível observar um novo recorde de casos, com países aderindo restrições rígidas para conter o novo coronavírus mais uma vez.


Apesar das notícias das vacinas oferecerem um alívio, a pandemia ainda está aí e devemos tomar todos os cuidados necessários!


Fonte: El País | G1 | G1 | G1 | G1 | G1

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