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Foto do escritorpor Rica Inocente

Black Friday: do consumismo ao minimalismo

Use a data de hoje para se conscientizar do seu comportamento de consumo

A data de hoje é simbólica e merece um conteúdo com caráter reflexivo. Não é um dia de celebração, mas sim um dia de consumo: chegamos a tão esperada Black Friday!


Mas esperada por quem?


Desde que chegou ao Brasil, em 2010, o evento movimentou o comércio pré-natalino, com promoções e fraudes, aumentando as compras impulsivas que move todo o ser humano. Contudo, até onde isso é saudável e como as pessoas vão se comportar com as novas mudanças de hábitos adotadas durante a pandemia?


Pensando nisso tudo, o por Rica Inocente quer conversar com você a sociedade consumista e o estilo de vida minimalista, e como os dois estão relacionados!


Sociedade do novo

Para começar a discussão é importante ressaltar que vivemos em uma sociedade que valoriza o “mito do novo”, exatamente como é apontado na publicação acima.


Nunca nos contentamos com o que já temos e sempre buscamos por mais atualizações: celular, carro, roupa, computador, curso, estilo de vida. Qualquer tendência de novidade nos atrai e caímos em um ciclo vicioso.


Isso tem um impacto na vida das pessoas e muitos não percebem. O termo obsolescência programada - técnica de produção que desenvolve produtos que possuem um “prazo de validade”, obrigando o consumidor a adquirir um novo em pouco tempo - já é uma velha assombração que não deixa de nos incomodar, mas mesmo assim, não desistimos das compras.


E não é apenas sobre produtos, mas fazemos isso com pessoas. Essa tendência da “sociedade do novo” nos levou a criar fobias inexplicáveis de coisas antigas, pessoas idosas. Cada vez mais desprezamos o que não é novidade e a corrida por inovações e atualizações resultam em toneladas de coisas deixadas para trás.


O consumo exacerbado e a fobia do antigo criam descartes desnecessários e o isolamento de pessoas que não se adequam à nova sociedade. A cada dia que se passa, consumimos mais do que podemos produzir e deixamos de lado seres humanos que não entraram na onda da inovação.


O descarte das pessoas é uma visão triste, mas é o que acontece com a geração do novo, nada nos escapa, nem mesmo as pessoas.


Consumo do prazer

Dito isso, vamos ao próximo tópico, que é o consumismo e seus aspectos. A vontade de comprar, de adquirir e de possuir nos leva a ser uma sociedade de novidades e tudo ao nosso redor reforça que esse estilo de vida é o mais positivo, pois querendo ou não, os seus hormônios da felicidade se acendem quando você digita o código de segurança do seu cartão de crédito no site.


E isso pode ser comprovado! De acordo com um levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), divulgada em 2016, 3 em cada 10 brasileiros consideram “ir às compras” um dos seus hobbies favoritos. O pessoal das classes A e B, entrevistado na mesma pesquisa, pelo menos 40,2% deles, confessou que usa o hábito como uma válvula de escape para reduzir o estresse.


O consumismo nada mais é do que comprar produtos que não precisamos, o famoso impulso. Entretanto, vivemos em uma sociedade que o ato de adquirir novos itens nos dá uma sensação de felicidade e prazer momentâneo.


Enquanto uns são levados pelo sentimento de alegria, outros são influenciados pela onda de promoções, que querendo ou não, também traz uma sensação de animação e ansiedade. Uma outra pesquisa da SPC e da CNDL, de 2017, revelou que os grupos sociais das classes C, D e E gastam sem necessidade, impulsionados pelas ofertas.


A sociedade do consumo reforça essa necessidade de termos coisas que não precisamos e isso não é de agora. O termo surgiu no século XX, com o American Way Of Life e a Revolução Industrial, que trouxe mais condições para as famílias, que consequentemente, consumiam mais, criando um ciclo de compra, lucro, demandas e compras novamente.


O status de possuir, além do poder aquisitivo, é o que alimenta esse comportamento. Porém, isso tem uma conta. Para consumir o tanto que consumimos, isso tem que vir de algum lugar e aí chegamos num ponto crucial.


Os recebidos são lindo, mas você já se perguntou de onde vem a matéria prima que produz eles? A sociedade do consumo, além de prazerosa, é caracterizada pela exploração dos recursos naturais, o que causa um esgotamento de propriedades renováveis, como a água.

O que para nós parece ser viável, é o sonho de consumo para 8 países que já não tem acesso ao líquido de forma ilimitada. E esse é apenas um exemplo da exploração do planeta Terra. A cada ano que se passa, a humanidade adianta do Dia da Sobrecarga da Terra, que marca o limite dos recursos biológicos que o ser humano consumiu do Planeta.


Em 2020, devido a pandemia, o planeta ganhou 3 semanas em comparação a 2019, atingindo sua sobrecarga no dia 22 de agosto. Contudo, o consumo ainda permaneceu e estamos chegando em uma realidade que logo não terá retorno.


Um levantamento realizado pela Global Footprint Network, com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), do ano passado, mostrou que se toda a humanidade consumisse como a população dos EUA, seriam necessários 5 planetas para suprir um ano de consumo. Onde achamos que vamos chegar com isso?


Hábitos de consumo na pandemia

Mas, se o novo coronavírus atrasou do Dia da Sobrecarga, por outro lado ele também expôs a necessidade de compras para garantir a felicidade e a sensação de bem-estar.


Ficar preso dentro de casa por mais de 8 meses não foi fácil para ninguém, que teve que lidar com cada crise existencial que surgia diariamente. Então porque não abusar do poder de consumo que alguns tiveram no começo do caos?


Contudo, apesar de estar comprando, o brasileiro readaptou os seu comportamento de consumo em dois critérios: o que estão comprando e como estão comprado.


Começando pelo “o que”. Um levantamento da Nielsen, realizado no começo da pandemia, apontou seis etapas de consumo em torno do Covid-19 e todas elas levavam a uma aquisição de insumos para emergência e suprimentos de saúde. Outra pesquisa realizada no começo da disseminação do novo coronavírus no Brasil, confirma esse tese.



Diante dessa corrida, a Associação Paulista de Supermercados (APAS), registrou um aumento de 34,4% de movimento nos mercados do estado de São Paulo e para não lidarem com uma escassez de produtos, as lojas começaram a impor restrições aos clientes, evitando que eles comprassem excessivamente, levando a uma crise de reabastecimento e o aumento dos valores.


Migrando para o “como”, a mesma pesquisa da MindMiners, mencionada acima, fala que nas primeiras semanas de pandemia, a compra pela internet já teve um aumento de 14%.



Disso, 61% dos clientes adquirindo produtos pela internet aumentaram o volume das compras devido ao isolamento, reforçando a teoria da sociedade do consumo, na qual compramos para nos sentirmos felizes. Mas isso não é tudo.


A mesma pesquisa da SBVC mostrou que 70% das pessoas pretendem continuar comprado por site e aplicativos no pós-pandemia. O que nos leva a uma corrida desesperada dos lojistas para adotarem novas formas de venda, já que o consumidor está deixando a loja física pelo mundo virtual.


Outro estudo, o “Novos hábitos digitais em tempos de Covid-19”, revelou que a pandemia transformou o varejo digital, dando um salto que não era imaginado antes da pandemia, se tornando essencial para a manutenção e sobrevivência de qualquer negócio.


Portanto, os hábitos mudaram, o consumo ainda é uma válvula de escape, principalmente na situação em que vivemos - trancados em casa, aguardando o próximo momento hábil para realizar uma nova compra - e este é o ponto de partida para o tema do dia: a Black Friday!


Black Friday

Você sabe de onde surgiu o termo? Se não, dá uma olhadinha no vídeo acima. Mas, basicamente, a primeira vez que ele foi usado foi em 1869 durante um evento no mercado do ouro, quando a oferta do minério foi maior que a demanda, levando os preços a maior queda já registrada na época, deixando muitos investidores no prejuízo.


A data exata da quebra foi em 24 de setembro de 1869, uma sexta-feira, que ficou conhecida como “sexta-feira negra”. Essa é uma das explicações e a mais plausível. Existem outras teorias que remetem a data a época da escravidão, o que trouxe um olhar pejorativo para a nomenclatura, levando muitas empresas a discutir a expressão e mudar o nome da promoção neste ano.

Porém, o dia é um dos mais esperados pelos consumidores, para aumentar a intensidade das aquisições, enquanto aproveitam as promoções disponibilizadas pelas lojas. É a segunda data mais lucrativa para o varejo, perdendo apenas para o Natal e marca o pontapé inicial das compras de final do ano.


Por outro lado, a pandemia afetou a confiança do cliente e o evento deste ano terá que lidar com a insegurança do mercado.


Segundo as informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país passa por uma crise tão grande que bateu o recorde de desemprego no terceiro trimestre, atingindo a taxa de 14,4%.

Isso influencia no pilar do varejo e da movimentação do mercado, que leva em consideração o emprego, a renda e a confiança do consumidor. Uma pesquisa do Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizado nas primeiras semanas de novembro, mostra que o índice de confiança do consumidor caiu 2,2 pontos, chegando a 80,4 pontos. O número abaixo de 100 aponta um péssimo desempenho para o mercado.


Uma das explicações para essa queda está na suposta “segunda onda” do Covid-19 que assombra o brasileiro, tendo em vista o aumento dos casos de coronavírus no país. Em outros países, os governantes já adotaram medidas de restrição para conter a nova onda de contaminação, porém, Brasil é Brasil, e seguimos negando a periculosidade da pandemia.


A Black Friday deste ano, diante deste cenário, possui duas perspectivas:

  1. queda brusca das vendas, resultado do desemprego, mercado instável e fim do auxílio emergencial;

  2. resultado positivo para os lojistas, uma vez que as pessoas estão esperando esse momento de preço baixo para ir às compras;

A primeira perspectiva pode ser compreendida devido ao que já foi explicado ali em cima, confiança do consumidor em baixa, empregos faltando, economia instável, e por aí vai …


Quanto ao segundo cenário, as classes A e B não foram tão afetadas pela crise da pandemia e acabou reunindo mais recursos financeiros para esta época do ano, uma vez que não gastaram ao longo dos meses.


Outra explicação para uma perspectiva positiva está no fato de que, com o prejuízo que os lojistas acumularam ao longo dos últimos meses, as promoções e descontos serão maiores e melhores, impulsionando os consumidores e recuperando o faturamento.


O evento consumista também terá que lidar com outro fator: as compras pela internet. A pandemia também tem influência nisso. Com menos pessoas indo às ruas e os comportamentos se alterando, os e-commerces serão os maiores impulsionadores de compras nesta Black Friday.


Estimativas deste ano para hoje

Com foco no comércio online, algumas instituições e empresas realizaram pesquisas sobre o desempenho da Black Friday e aqui vão algumas expectativas:

A previsão otimista está realmente voltada para o comércio online, uma vez que o consumo se tornou predominante por este canal. Uma Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, mostrou que de janeiro de 2019 a janeiro de 2020, a internet passou a representar 5,9% do varejo. Imagina depois de tudo que já vivemos.


Viva minimalisticamente!

Mas toda essa correria, promoções e bancarização da população ainda fazem parte da sociedade do consumo que falamos lá em cima. Até onde todo esse processo é realmente saudável para a população?


O consumo exacerbado não prejudica apenas o nosso meio ambiente, mas também afeta o nosso comportamento íntimo, por isso datas como a de hoje devem servir como uma reflexão do que pode ser feito para abrir mão de tradições corrosivas e adotar novos hábitos, que influenciam no nosso dia a dia e no contexto geral.


O estilo de vida minimalista prega exatamente o contrário do que foi dito até agora. Essa linha de pensamento defende uma reavaliação das suas prioridades, cortando tudo aquilo que não agrega valor a sua vida. O minimalismo cria consciência de gastos excessivos, consumo desnecessário e a real necessidade de todos os produtos em sua vida.

Uma das características do estilo de vida é a contracultura. Quem adota esse comportamento não se deixa levar pela mídia, um dos maiores impulsionadores da sociedade do consumo. Os minimalistas não se excluem do mundo, mas compram só o que é necessário, priorizando ciclos saudáveis de consumo, dando espaço para uma vida com valores reais.


Mas como qualquer outro comportamento, ele não é fácil de se impor. Apesar de trazer diversos benefícios, o minimalismo deve se instalar aos poucos, tomando consciência do que precisa e do que é desnecessário para a sua vida.


E isso nos leva ao último, mas não menos importante tópico, o consumo consciente!


Consumo consciente

Sei que já ouviu esse termo em algum lugar, pode ser no mundo da moda, gastronomia, eletrônicos, indústria e por aí vai. Em todos os setores da economia existe o discurso do consumo consciente, mas o que significa ser um consumidor consciente?


O principal pilar desse comportamento é conhecer o processo pelo qual os produtos passam, da fabricação ao descarte, com o intuito de diminuir os impactos da compra nas diversas esferas da sociedade.


O ato de consumir não engloba apenas a compra e a venda, mas também o meio ambiente, a economia e a sociedade, tudo está interligado e tudo sofre uma consequência, podendo ser positiva ou negativa.

O consumo consciente é comprar de maneira saudável, pensando nos impactos que o item pode ter no contexto geral. Isso se aplica a tudo: roupas, comida, objetos, aparelhos eletrônicos e qualquer outro item que pode ser adquirido de forma comercial. O intuito é valorizar ciclos positivos, tendo conhecimento do processo de produção e diminuindo os efeitos colaterais que eles podem causar na sociedade.


O Instituto Akatu, organização que trabalha na conscientização do consumo consciente, pontua 12 princípios que são defendidos nesse modelo. Entre eles está o planejamento das compras, reutilização de produtos e embalagens, noção das práticas de responsabilidade social das empresas, reflexão dos próprio valores e mais alguns outros, que podem ser conferidos aqui.

Por outro lado, se o consumo sustentável é a forma mais saudável de continuar a comprar sem prejudicar o próximo, o brasileiro ainda não respeita os ensinamentos bíblicos de “amar o próximo como a si mesmo”. De acordo com um levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em parceria com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), divulgado em 2018, apenas 31% da população se declararam “consumidores conscientes”.


A mesma pesquisa mostrou que a população sabe da necessidade de atos mais sustentáveis, mas os mesmos entrevistados dizem não tomar nenhuma atitude a respeito disso. Então, o que fazer diante disso?


Pode parecer difícil no começo, mas com o tempo você percebe como os cortes são necessários na sua vida, começa a entender a importância de se preocupar com “o de onde vem” e com o “pra onde vai”. Vai se perguntar mais ao olhar para as prateleiras “realmente preciso disso?”. São hábitos que vão surgindo ao decorrer dos dias.

Com o tempo, o comportamento vai se tornando mais natural e esse pequeno ato pode ter um impacto surpreendente no final das contas. O seu consumo consciente pode atrasar o Dia da Sobrecarga, impactar a vida do seu vizinho, influenciando-o a adotar comportamentos sustentáveis ou simplesmente reduzir o seus resíduos descartáveis.


Por isso, nessa Black Friday, invés de sair comprando tudo que surgir pela frente, pare e pense “realmente preciso desse item ou é só uma compra de impulso?”. Não precisa deixar de comprar, mas leve apenas o que é necessário para a sua vida, pensando nos impactos que o seu comportamento pode ter no mundo exterior.


Ter consciência dos seus atos é o primeiro passo para mudar comportamentos tóxicos!


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