Street Style está presente no mundo das altas grifes e desfiles, mas tem origem humilde
O ano era 2015 quando um estilo ousado ganhou as passarelas das Fashion Weeks e também as preferências dos modelos e profissionais da moda que frequentavam esses ambientes: o Street Style.
Para os leigos em relação a esse universo, o termo refere-se a moda que nasceu nas ruas e ganhou as passarelas. É um movimento ligado a cultura jovem e estilos provenientes das periferias ou grandes centros urbanos.
Apesar de o termo ter surgido em 2015, ganhou mais reconhecimento em 2017, devido a divulgação nas redes sociais e as menções por modelos e influencers do mundo todo. Um dos motivos da popularização do estilo é o fácil acesso as roupas e acessórios característicos, já que a tendência origina das ruas e não de grandes grifes internacionais.
Outra razão para a rápida disseminação do estilo é a democratização da internet e o acesso a câmeras de celulares e as redes sociais, como o Instagram, que facilitaram a disseminação desse visual, descentralizando o foco das passarelas e dando valor aos aspirantes a moda.
O Street Style é bem característico e fácil de ser detectado. As cores, os acessórios e as combinações são um ponto chave para montar um look Street Style. Entre as roupas e acessórios podemos encontrar peças de roupas estilizados, pochetes, sholderbgs, tênis com plataforma, entre outros modelos.
As roupas neons, prateadas e douradas, combinadas com moletom e roupas largas, assim como acessórios de grifes, sapatos de saltos e até mesmo ternos. Todos os elementos que são fáceis de ser encontrados e de serem montados. Para uma inspiração, basta buscar exemplos no Pinterest. Os resultados são infinitos.
Origem
Mas, apesar de ser uma tendência que atrai milhões de seguidores e faturam milhões de reais e dólares por ano, a ideia do Street Style surgiu de criar uma identidade para os grupos periféricos de cada região, como uma forma de expressão e até mesmo de manifestação.
O estilo representa uma cultura marginalizada pelos grandes grupos da sociedade e, apesar de estar em alta e ganhar espaços em evento como os Fashions Weeks ao redor do mundo, a origem de cada um deles ainda se mantém nas sombras.
É possível identificar algumas bases da origem dessa tendência em sociedades ao redor do mundo. Cada centro cultural oferece um diferencial, o que torna o Street Style um estilo vasto e com muitas referências.
Nova York/EUA
A cultura hip-hop, nascida em na década de 1970, sempre foi marginalizada por ser uma cultura dos bairros mais pobres da cidade. Entretanto os tênis, os bonés, jóias luminosas e calças largas se tornaram uma marca dominante e hoje, influencia o guarda-roupa de muitos influencers e modelos, como as vitrines de muitas grifes por aí. E, apesar de ter conquistado o coração das grandes passarelas, o mérito das inovações nesse estilo ainda vem das periferias.
Brazzaville/Congo
Um exemplo de manifestação através das roupas pode ser observado nos Sapeurs, vindos da periferia da capital do Congo.
O início do movimento se deu na favela de Bakongo, na República Democrática do Congo, nos anos de 1960, durante o regime do ditador Mobotu Sese Seko, quando o país ainda era conhecido como Zaire.
O governo ditatorial queria instituir uma identidade nacional em oposição à cultura estrangeira e tribal. Em contrapartida, os Sapeurs, como são conhecidos, se inspiraram no conceito de cavalheirismo ocidental e ainda por cima se destacavam com os ternos de cores gritantes e cortes sob medidas, que se destoavam do cenário de pobreza do país.
Além do visual, o grupo possuía um rigoroso código de conduta. Os seguidores dessa tendência são elegantes e se orgulham dos bons modos, gentileza e pacifismo, levando a sério o bordão “você é o que você veste”.
Os homens deste grupo costumam provir de classes sociais mais baixas, mas com altas inspirações, podem ser considerados dândis africanos, mas possuem uma identidade cultural muito específica, ligada a história do congo e o seu passado colonial.
São Paulo/Brasil
A querida capital brasileira, um dos centros urbanos mais inovadores e movimentados do mundo, não podia ficar de fora desse roteiro de bases para o Street Style. A capital impressiona a todos pela sua agitação e por todos os tipos de acontecimentos.
A moda não poderia ficar de fora dessa. Nas ruas da cidade é capaz de se deparar com os mais variados estilos, ninguém em São Paulo se parece, nem dentro dos seus próprios círculos sociais.
A diversidade de estilos está em todos os lugares, principalmente na periferia. A principal característica dessa galera é a criatividade de usar tudo que tem ao seu alcance. Eles criam o estilo a partir do que tem no guarda-roupa o que torna a tendência acessível a todos os fashionistas.
Além das roupas e das passarela
Apesar do reconhecimento mundial, o movimento do Street Style vai além das roupas e dos desfiles de moda. Como dito no tópico anterior, é um conceito que representa uma cultura e grupos sociais que normalmente são marginalizados.
Por onde começar
Longe das grifes, a influência mais forte vem da cultura do Hip Hop. O estilo começou como um tipo de música e de dança, mas logo se tornou um estilo de vida e causou muito impacto nas sociedades onde foi inserido.
A história dele começa nos anos 70, no Bronx, em Nova York. A cultura era uma mistura de experiências dos negros norte-americanos, afro-jamaicanos e porto riquenhos, que viviam em uma realidade difícil, com muita criminalidade, pobreza e violência nas ruas.
Era comum nessa região as brigas por demarcação de território, por ser um bairro com muitas gangues. E, ao passar do tempo e da formação do Hip Hop, grupos de dança começaram a surgir e batalhar de uma forma diferente para garantir a dominação do espaço.
Com o crescimento da cultura, o movimento foi ganhando novos pilares e também alguns estilos para compor a sua essência. Originalmente, ele é composto pelo Rap, Djing, Breaking (estilo de dança) e a arte do Grafite. Todos esses pilares juntos tem como intuito expressar os pensamentos dos praticantes, fazerem protestos e buscar por reconhecimento para as causas pelas quais lutavam.
Criminalização do estilo
Mas, apesar do objetivo pacifista pelo qual lutava, o movimento sempre foi criminalizado socialmente, devido a suas origens. O grafite, até hoje, luta contra o tabu de que suas obras são manifestações artísticas e não poluição urbana. Assim como as músicas dos estilos de rap, hip hop e black, que por muito tempo foram julgadas erroneamente pelas suas letras e também pelo público que cativava.
Brasil
No Brasil, algumas culturas também sofrem com esse estigma. Um dos exemplo do estilo de rua no Brasil que tem que lidar com esse preconceito é o Funk.
Não diferente do Hip Hop, o funk brasileiro originou das periferias e no seu momento de reconhecimento, inspirou o estilo de muitos jovens no país. O “estilo chave”, como foi chamado na época, era um dos mais característico do grupo.
Os seguidores dessa vertente apostam em roupas e sapatos de marcas, mesclados com bermudas ou calças de tactel, acompanhados por acessórios de prata ou ouro e itens esportivos, como óculos e bonés de marcas conhecidas.
Apesar do look descrito acima ser comum entre os homens que curtem esse estilo, as mulheres não estão de fora. É possível vê-las desfilando com itens de grife, muitos acessórios de prata e ouro e uma boa roupa curta ou justa. Vai do gosto de cada uma.
Inspirações
As inspirações para o guarda-roupa desse pessoal vem dos clipes de funk. Os vídeos mostram muita ostentação, carros caros, bebidas importadas e roupas de luxo. Um universo onde todos possuem muita grana e vivem um sonho.
Mas o funk não começou assim. Quando o estilo chegou ao Brasil e as primeiras letras ganharam sentido, os MC’s falavam das suas realidades pobres, a violência nas favelas e a discriminação da sociedade em relação às comunidades.
Ao passar do tempo e as novas gerações ocuparem o ramo musical, as letras foram ganhando novos sentidos e começando a representar outras realidades. Os meninos que queriam ser ricos, a sexualidade feminina e os bailes funks.
Daí para frente, o enredo já é conhecido. Uma cultura que surgiu dos bairros periféricos não foi bem aceita pelas altas classes, que começaram a taxar o ritmo como má influência para os jovens.
Da favela para o mundo
Mas apesar do preconceito, o ritmo não caiu no esquecimento e hoje é um dos maiores apoios para jovens de periferia saírem da pobreza e ganharem seu espaço no mercado musical.
Alguns cantores desse meio ganharam fama internacional e levam ao mundo o estilo que é perpetuado nas comunidades. Acessórios que vemos da cultura Hip Hop também são muito comum no meio do funk. Um exemplo disso são as correntes, tanto de ouro como de prata.
Nos dias atuais, o estilo do “funkeiro” também incorporou algumas características do Street Style “americanizado”, ainda mais com o surgimento do Trap e as representações que os artistas desse meio apresentam a seu público.
Cultura de rua
Mas além das roupas e músicas, o Street Style também tem a ver com a cultura de rua. As metrópoles agitadas, os grafites espalhados por muros e prédios, os restaurantes e bares estilizados para receber um público alternativo. Tudo isso contribui para o movimento do Street Style.
A vertente é quase uma estilo de vida e acaba simbolizando uma geração inteira e não apenas um modelito a ser escolhido no guarda-roupa. A nova cara dos usuários desse fenômeno projetam toda uma história sobre o movimento, tendo características únicas.
Uma conferida no Instagram deixa isso fica claro. As roupas, os ambientes frequentados e as músicas. O Street Style se tornou uma composição que é seguida ao pé da letra pelos adoradores do estilo.
Novos estilos
Como qualquer outra tendência, o Street Style também está sempre se inovando. O novo degrau desse movimento é o Hype. Mesclando o melhor dos dois mundo, o Hype traz o peso das grandes grifes com as inspirações da cultura de rua.
Um dos exemplos dessa mistura foi uma parceria da Supreme, marca voltada para skatistas e amantes do streetwear, com a mais querida de todas as grifes, Louis Vuitton. As peças vieram com o conforto da moda de rua e a elegância da marca mais badalada do mundo.
Mas não se engane, algumas dessas grifes renomadas preferiram se jogar nesse mundo de forma independente e acertaram em cheio. Ugly shoes milionários e com adoradores fashionistas, casacos e corta ventos, que antes não eram o foco de produção dessas marcas, se tornaram o alvo dessas grifes, que contemplam as peças com cifras escandalosas e hit em compras.
E por aí vai, essa indústria cresce a cada dia e muda a cada temporada. Ela é mutável, assim como o público que a segue. Mas elementos da sua origem permanecem intactos, relembrando a sua verdadeira essências.
O que vem a seguir?
Como foi dito, o estilo é mutável e as tendências para 2020 reúnem algumas dicas de roupas, acessórios, cores e inspirações para acertar em cheio a composição Street Style.
Para começar, a cor é uma das características de um bom fashionista e por isso a Pantone, uma das principais empresas de cores do mundo, seleciona todos os anos colorações que vão se destacar.
O sistema da marca é padrão para diversos setores, inclusive a indústria gráfica e a têxtil. Os tons selecionados pela Pantone se destacam durante o ano em que são escolhidas e é claro, marcam presença no Street Style também.
As cores deste ano e que já foram flagradas em diversas modelos de fashionistas nas semanas de moda que aconteceram no começo do ano são:
Pantone 19-4052 Classic Blue
Pantone 16-1324 Lark
Pantone 14-1318 Coral Pink
Pantone 15-5718 Biscay Green
Pantone 11-4001 Brilliant White
Quanto a peças e acessórios, os amantes do Street Style podem se inspirar no streetwear das estrelas dos anos 90. Essa temporada terá muitos elementos que tragam de volta os clássicos dos anos 2000, acompanhadas por elásticos de cabelos estilizados, os Scrunchies.
Outro elemento que vai estar presente serão os penteados com tranças, presilhas e grampos de cabelo e uma maquiagem bem leve, levando apenas o delineador e o brilho labial.
Todas as tendências previstas para os próximos meses tem origem nos estilos vistos durante os anos 90 e 2000. E não é por acaso. Os modelos exibidos naquela época usavam e abusavam do Street Style e foi um dos impulsos para a disseminação desse estilo de vida.
O conceito dele é muito prático e a aderência a ele é mais fácil ainda. O objetivo é apostar em elementos do dia a dia, que sejam confortáveis e elegantes ao mesmo tempo e adaptar o estilo a personalidade. Não precisa de muito e qualquer item ou acessório pode tornar o look do dia uma representação do Street Style.
Fonte: Fashion Forward | Vogue | Hypeness | Dança de rua | O Globo | Revista Rap | Politize | Correio Braziliense | GQ | Metrópoles | Z Magazine | Z Magazine|
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