A resposta correta desta vez são 80 tiros de fuzis em um carro de família, mas numa próxima ação, podem ser mais
Era um domingo, dia 7 de abril, e mais um bloco do Fantástico começava na Globo. A matéria era sobre um tiroteio na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde homens do exército fuzilaram um carro de família que ia para um chá de bebe. 80 tiros acertavam em cheio o carro, que levou a morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos. Era só mais uma tarde e um passeio de família, mas os militares não quiseram saber e meteram bala.
De acordo com os depoimentos preliminares do grupo envolvido, eles responderam a uma “injusta agressão” de supostos assaltantes. Mas, de acordo com as testemunhas, eles apenas abriram fogo sem motivo algum, mataram o motorista, feriram outro homem que estava no carro e ainda atiraram no peito de uma terceira vítima que chegava para socorrer o pessoal do carro.
Poderíamos até dizer que talvez eles estivessem enganados e por acidente, dispararam no carro errado. Mas 80 tiros não é engano, é preconceito. Não foi um erro, porque um inocente acabou morto por uma ação sem fundamentos. Há uma grande diferença entre assaltantes fugindo após um furto e uma família indo a um chá de bebe no domingo à tarde. Onde foi que eles confundiram, talvez devido a cor da pele dos tripulantes do carro? O que leva militares a fuzilarem 80 vezes um carro na rua, numa das regiões mais carente da cidade do Rio de Janeiro?
Aliás, eles vivem de enganos e tiroteios. Um dia antes, no sábado, dia 6 de abril, um jovem levou um tiro nas costas após ele e o amigo furarem um bloqueio militar. De acordo com o garoto que sobreviveu ao ataque, um dos soldados disse que o tiro acertou o companheiro, pois o fuzil “estava torto” e a intenção dele era acertar o pneu. Além de um dos jovens não conseguir chegar ao fim da noite vivo, os meninos foram tachados como criminosos, mesmo sem provas deles terem cometido outro delito.
É engraçado como a força militar confunde muito as coisas quando se encontra nas áreas mais carentes e pobres da sociedade, tudo é motivo para fuzilamento e é fácil falar que eram “criminosos”, “traficantes” e outros adjetivos. Eles confundem muito, mas nunca confundem a cor da pele da pessoa assassinada. Alguém já reparou essa coincidência? Para a polícia, é mais fácil matar quando é negro? Ou o racismo enraizado na sociedade leva a força militarizada do governo a atirar em todos que fazem parte das classes menos privilegiadas, porque para o inimigo, bandido bom é bandido morto, mas todos são bandidos aos olhos da polícia?
Detalhe: leia polícia, mas entende-se como exército ou qualquer força de repressão que o governo utilize para “proteger” ou mais fácil, repreender a população.
Na tarde desta segunda-feira, 8 de abril, o Exército informou que 10 militares envolvidos na morte do músico foram detidos em flagrante e tiveram o seu afastamento decretado imediatamente, devido a falta de consistência entra as história contadas pelos militares e das testemunhas da ação. O fato, de acordo com os envolvidos, é de que havia ocorrido um assalto no bairro de Guadalupe, Zona Oeste do Rio, e que os assaltantes se depararam com o comboio militar e atacaram os oficiais e, por causa disso, atiraram de volta.
Segundo a perícia da Polícia Civil, não haviam assaltantes no carro fuzilado e que as duas vítimas eram integrantes da família. A mulher do músico, em entrevista a Agência Brasil, disse que um os soldados “ficaram de deboche” e um deles até chegou a rir da situação de desespero da família diante o tiroteio. Isso marcou o fim de mais um dia na Zona Oeste do Rio de Janeiro, regado a fuzilamento de pais de famílias inocentes.
Fonte: G1 | Huffpost Brasil
Comentarios