A ignorância a outras culturas, religiões e estilos de vida é um dos preconceitos que mais afetam o cidadão brasileiro
O tema de hoje é delicado em vários aspectos. O Brasil possui, segundo os dados do Banco Mundial de 2017, 209,3 milhões de pessoas, distribuídas em 26 estados e o Distrito Federal. Cada qual carrega uma cultura, com costumes variados e crenças diversas. É normal em um país de tamanha proporção haver diferenças entre a população e como, além dos índios, ninguém é do Brasil de fato, seria o mundo ideal cada um respeitar a cultura do próximo, já que o país é composto de diversas nacionalidades, formando um só povo.
Mas, se você é do Brasil sabe que não é bem assim que funciona por aqui. Principalmente na época do Carnaval. A Intolerância Cultural e Religiosa é um tema que está sempre em alta, afinal o país ocupa, de acordo com dados de 2018, o sétimo lugar no ranking de intolerância em uma lista de 27 países pesquisados.
As denúncias de intolerância religiosa aumentaram 56% em 2019, comparado às queixas do mesmo período do ano anterior. Entretanto, os números podem ser ainda maiores devido as vítimas que não registram os casos, por medo de que a violência se repita ou por terem consciência de que o estado não apoia ou não presta o devido socorro aos ameaçados.
No dia 21 de janeiro foi celebrado o Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa e o ‘por Rica Inocente’ trabalhou um post à respeito disso, confira:
Mas, não é só de intolerância cultural e religiosa que vive o conservador brasileiro.
O que é?
A origem da palavra tolerância vem do latim ‘tolerare’ e tem o sentido de suportar, aceitar o que não se quer ou que não pode impedir. A intolerância surge quando um indivíduo se recusa a conviver, respeitar ou reconhecer opiniões, crenças e costumes alheios. Isso faz resulta no preconceito pela ignorância, o que acaba fazendo com que apareça a discriminação, pois o grupo social dominante não reconhece o lugar do outro na sociedade e tenta sempre desacreditá-lo.
É importante ressaltar que a cultura das pessoas vai além da religião. Nela está compreendido também a fala, a forma de se vestir, estilo de vida, crenças e outros detalhes. Quando essas identidades não são aceitas por outros grupos é comum que surjam dos problemas sociais, que prejudicam a sociedade discriminada, que sofrem com o preconceito, a falta de credibilidade e também de apoio governamental, uma vez que essas culturas renegadas não recebem apoio e não são ensinadas as novas gerações.
Para aplacar com o crescimento da intolerância no país, foi aprovado um projeto de lei, o nº12.737/2012, para punir o indivíduo instigador de provocação ofensiva a outro. Outro que ajuda na criminalização de atos intolerantes é o artigo 208 do Código Penal, que liga diretamente com a intolerância religiosa. Mas isso não é a solução do problema, que parece alcançar novos patamares.
Intolerância Religiosa
Não divergindo muito da primeira definição, a intolerância aqui ainda é o ato de não aceitar ou não respeitar, nesse caso, a religião da outra pessoa. Na intolerância religiosa, os ofensores costumam dirigir ofensas as crenças, liturgias e cultos do outro grupo. É fato que ao longo dos anos a religião foi motivo de muitos conflitos ao redor do mundo, afinal o planeta não é composto por uma só crença, apesar de haver uma dominante.
A intolerância religiosa é um dos motivos para solicitação de refúgio em diversos casos. De acordo com o relatório da ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) mais recente, em 2018 o Brasil recebeu 46 solicitações de refúgio por motivos de religião. Vemos que a intolerância não é uma exclusividade do brasileiro e sim um problema mundial.
A crença em determinado dogma moldou por muitos anos a estrutura de diversas sociedades e fez com que religiosos de minorias fossem desprezadas desde o início. Durante milênios a religião cristã massacrou diversos grupos culturais por não condizerem com seus pilares, fazendo com que muitas religiões desaparecessem ou até mesmo entrasse na criminalidade. Um exemplo disso foi a ocupação portuguesa no Brasil, que catequizou os índios e os proibia de praticar os seus cultos tradicionais.
A religião forma grupos que veem a necessidade de obrigarem outros povos a acreditarem em suas crenças, quando na verdade aquilo só faz sentido para aquelas pessoas. A compreensão de que só a sua forma de pensar está correta, ignora as culturas que existiam antes mesmo do surgimento da religião dominante, e isso sim é ignorância.
Intolerância no Brasil
O Brasil é, teoricamente, um país laico. Sendo assim, é de responsabilidade nacional respeitar e acolher todos os tipos de crenças existentes no país. Mas, com o atual presidente “terrivelmente cristão”, aparentemente o país assumiu uma religião oficial sem contrato com o cristianismo e seus pilares e isso é muito grave. Não porque as pessoas têm uma crença, mas sim porque incorporam os dogmas errados e acabam prejudicando outras pessoas.
Durante as eleições de 2018 os registros de denúncias relacionados à intolerância no estado de São Paulo triplicaram durante os meses da campanha. De setembro a outubro foram relatados 16 casos por dia, o que representa o triplo dos casos registrados no primeiro semestre. Entre as ocorrências, 75% eram em relação à orientação sexual, 83% relacionadas a origem da pessoa e 15% por preconceito de cor ou raça.
O fato disso acontecer durante as eleições foi porque o atual presidente usou um discurso bem forte em relação a religiões de minorias e grupos sociais marginalizados, prometendo “salvar a tradicional família brasileira” de um mal que até hoje estamos a procura. Com os fanáticos intolerantes ouvindo um discurso que autorizava o seu sentimento sobre esses grupos, isso deu coragem para que atos criminosos fossem concretizados.
E esse é o maior problema de assumir uma crença e tentar criminalizar outra. Uns e outros, apesar de não respeitarem ou não concordarem com outras culturas ou estilo de vida, não vão às ruas para colocar o seu ódio em prática, mas muitos grupo se mobilizam para fazer isso, o que leva às depredações, violências e outros crimes. Igrejas evangélicas incentivam seus fiéis a pregarem contra religiões de matrizes africanas, conservadores afirmam que homossexuais são anormais e outras afirmações que implicam no seguro dessas comunidades.
Tudo isso está relacionado a falta de interesse em conhecer mais sobre essas culturas e se recusarem a aceitar que sua realidade não é uma verdade absoluta. Esse comportamento está enraizado no ser humano, que cresce sobre um ponto de vista que nega a ela o conhecimento de outras perspectivas. Muitas pessoas se desprendem dessa bolha cultural, vão atrás de outras crenças ou só buscam conhecer para fins sociais.
Para ter uma noção de como a intolerância é algo forte no Brasil, as escolas do país não ensinam aos seus alunos sobre culturas alternativas, religiões variadas e questões ligadas a orientações sexuais. Os mais conservadores afirmam que o ensinamento dessas matérias nas escolas estaria influenciando os jovens a práticas “não comuns” de acordo com a perspectiva dominantes. Mas isso não é verdade.
O ensinamento de questões como essa nas escolas ajudariam as novas gerações a entenderem essas culturas e estilos de vida, abrir os olhos de muitos, que poderiam se redescobrir em novas crenças e também a trazer o respeito para a sociedade. Isso seria uma discussão saudável aos jovens e também para a sociedade, pois alertaria sobre os riscos da intolerância na convivência diária. Para falar que isso não é de fato discutido, os planos de ensino até envolvem alguns desses temas, mas eles não são cumpridos como deviam.
A solução de toda essa questão é a aprendizagem, pois é isso que falta aos intolerantes, um pouco de conhecimento para que não preguem o ódio e disseminem suas ideias contagiantes. Mas eles se negam a esse fato, pois não querem abrir mão da sua verdade absoluta.
Antes de ir embora, confira esse podcast aqui:
Fonte: Sites Google | Jornal NH | Politize! | Brasil Escola |Folha de S. Paulo | Brasil de Fato
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