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Foto do escritorpor Rica Inocente

Precisamos falar sobre o movimento Black Lives Matter

Atualizado: 15 de jun. de 2020

Racismo, tanto no Brasil como no exterior, é uma pauta que está sempre em discussão, mas nunca é solucionada

Os Estados Unidos tem sofrido uma série de manifestações violentas devido ao assassinato de George Floyd, homem negro asfixiado por um policial de Minneapolis no dia 25 de maio. O agente público sufocou o homem com o joelho em seu pescoço, enquanto a vítima pedia por ajuda, dizendo não conseguir respirar.


Apesar dos pedidos de “Não me mate” de George e das súplicas do público que se aglomerou ao redor da abordagem, o policial Derek Chauvin se recusou a sair de cima do homem, que em determinado momento, parou de se mexer.


Os vídeos realizados na cena do crime desmentem muitos fatos colocados nos relatórios policiais apresentados oficialmente. Entre as declarações dos policiais, George estava intoxicado com alguma substância e também resistiu à prisão, o que não aparece nos vídeos.

O caso é muito parecido com um outro ataque policial que aconteceu em 2014, na cidade de Nova York. Ao se tornar suspeito de venda de cigarros avulsos de maneira ilegal, Eric Garner, um homem negro, repetiu 11 vezes a frase “Não consigo respirar” enquanto um policial aplicava um golpe de estrangulamento no homem.


Os relatórios do médico legista responsável pelo caso apontou que o estrangulamento foi a causa direta da morte de Eric. Entretanto, o assassino dele só saiu da corporação em agosto do ano passado.


Os casos de Eric e George são o que levam os manifestantes às ruas para protestar contra violência policial contra o povo negro. As manifestações vistas nas grandes capitais americanas e em mais de 140 cidades do país são as maiores desde o assassinato de Martin Luther King.


Manifestações

Um dia após o assassinato de Floyd, a cidade de Minneapolis começou a registrar aglomerações nas ruas em busca de justiça pela morte de George. A indignação foi tanta, que os vídeos da abordagem foi compartilhada milhares de vezes, causando uma comoção ainda maior.


Manifestações como essas não acontecem no país desde 1968, quando o notório Martin Luther King foi assassinado por um supremacista branco. Na época, houveram protestos em diversas cidade e, entre elas, Chicago, que foi palco de uma batalha entre manifestantes e policiais.


King, junto com Malcolm X, foi um ícone na luta pelos direitos do povo negro. Entre os anos de 1950 e 1960 eles estiveram a frente de protestos contra a segregação racial nos EUA e também pelos direitos civis.


De acordo com matérias sobre as manifestações, o que incentivou a população a ir às ruas no caso de George Floyd foi o mesmo que levou a população às ruas em 1968. Indignação com o estado e incompetência das autoridades.

Prédios públicos incendiados, comércios depredados e saqueados, carros e ruas vandalizadas, mortes registradas e o isolamento do presidente Donald Trump, EUA, no bunker da Casa Branca, enquanto a luz se apagava diante dos protestos que aconteciam em frente a sede da nação.


A indignação levou a multidão às ruas de mais de 140 cidades do país, fazendo com que a Segurança Nacional fosse acionada em algumas cidades e a imposição do toque de recolher para tentar barrar os protestos, o que não foi respeitado.


A indignação do povo branco


As cenas do sufocamento são agoniantes. É possível ver o desespero de Floyd, a agitação das pessoas que o circulavam, pedindo para que o policial saísse do pescoço do homem, e a calmaria do agente enquanto assassinava o homem.

Diante de uma cena dessas, é óbvio qual seria a reação das pessoas mais lúcidas: INDIGNAÇÃO. Como um ato desses pode acontecer em pleno século 21, uma abordagem violenta que leva a morte de uma pessoa. Qualquer grupo social entraria em colapso e sairia às ruas em busca de justiça.


Mas, aparentemente, os danos causados em propriedades públicas ou privadas, são mais revoltantes do que a morte de um homem sufocado. Uma das discussões que surgiu na internet após os protestos de Minneapolis, que teve a primeira noite caótica, com prédios públicos incendiados e lojas saqueadas, foram a respeito dos prejuízos dos comerciantes.


Alguns internautas pareceram mais indignados com o prejuízo aos cofres públicos e ao bolso dos comerciantes do que pela morte de um homem de forma covarde. Os valores parecem terem se invertidos e trazemos, mais uma vez, o racismo como uma pauta a ser discutida.


Fonte: Uol | Uol | Fantástico | Uol | Época


Movimentos anti racistas

A luta contra o racismo não é de hoje. Por anos a população negra luta para ter os seus direitos reconhecidos, e acima de tudo, respeitados. Os movimentos anti racistas, além de combater o racismo em si, quer chamar a atenção para os problemas que atingem essa população.


Apesar das grandes manifestações contra a brutalidade policial contra George Floyd, não é a primeira vez e nem o primeiro descontentamento dos negros com a polícia. A história está cheia de absolvições e históricos de violências policiais contra negros e outros grupos menos favorecidos.


A publicação de hoje vai comentar sobre dois movimentos que visam proteger vidas negras e também combater a violência policial aos grupos sociais excluídos pela sociedade.


Black Panther (Pantera Negra)

Fundado como Black Panther Party for Self-Defense, o partido revolucionário afro-americano começou em 1966 em Oakland, Califórnia. A ideia foi de dois jovens ativistas, Huey P. Newton e Bobby Seale.


A princípio, o grupo surgiu para realizar patrulhas armadas em bairros afro-americanos para proteger os moradores da brutalidade policial. O objetivo era deter os agentes de realizarem crimes contra a população desses bairros, que na época sofria muito racismo devido ao desenvolvimento de políticas sociais que excluíam os negros da sociedade.


Com o tempo, os Panteras, como ficaram conhecidos, se transformaram em um grupo revolucionário marxista que pedia o armamento dos afro-americanos, a isenção do mesmo povo do recrutamento militar obrigatório e de todas as sanções da “América branca”.


O grupo também pedia pela libertação de todos os afro-americanos da prisão e o pagamento de compensação pelos séculos de exploração por parte dos americanos brancos. As ações dos Black Panthers se diferia dos protestos pacíficos organizados e incentivados por Martin Luther King.


Fontes: Britannica


Black Lives Matter (Vidas Negras Importam)

Muito popular na mídia nos últimos dias, a hashtag #blacklivesmatter dominou as redes sociais e as ruas americanas nos protestos contra o assassinato de George. O movimento ganhou força em 2014, após da morte de Mike Brown por um policial branco, Darren Wilson.


O grupo tem como objetivo chamar atenção para a violência sofrida pelas comunidades negras nos EUA. Mas é claro, a ideologia se espalhou e agora é uma rede global que busca conscientizar a população sobre a opressão vivida pelos negros.


Uma das formas de protesto do movimento é se ajoelhar em respeito às vítimas e também mostrar respeito pelos pedidos de justiça e pelo fim da violência policial contra os negros. O ato começou em 2016, com o jogador de futebol americano Colin Kaepernick e foi adotado em outros protestos.

Além desses, alguns outros grupos também se destacam na luta pelo fim da repressão policial contra a comunidade negra. Todos eles lutam pelo fim do racismo nas corporações que deveriam proteger a população e não asfixiá-la.



A importância desses atos

Uma discussão que ganhou as pautas atuais foi a agressão do policial a George Floyd e muitas pessoas começaram a se perguntar o porquê da revolta começar agora e se isso não existia antes da morte de Floyd.


Apesar do estopim ter sido a morte do homem negro de 46 anos, a revolta já vinha sendo engolida a seco a muito tempo. Os Estados Unidos enfrentam a maior onda de protestos desde o assassinato de Martin Luther King por um supremacista branco.

O motivo do levante popular vai além do caso, mas porque a composição do soneto mostra uma realidade muito pior. Além do racismo institucional, o país também passa por uma pandemia assim como o resto do mundo.


O país lidera o ranking de casos confirmados e de mortes registradas pelo novo coronavírus e mesmo com o quadro tão avançado, os manifestantes não se aguentaram em ir às ruas para pedir o fim da morte dos negros.


A verdade é que eles chegaram ao limite. Mortes nas periferias acontecem sempre, até aqui no Brasil, crianças sendo fuziladas em operações policiais, e uma polícia que chega pronta para atirar antes de perguntar.


Os vídeos da abordagem de Floyd não mostram a necessidade de agressão utilizada pelos agentes, assim como em muitos outros casos de agressão policial, onde eles juram de pé juntos que estavam se defendendo, enquanto ninguém estava sendo atacado.

A polícia age assim, da mesma forma como normalizam esses atos, porque o racismo é estrutural. O preconceito foi construído ao longo dos anos, a desigualdade, a exclusão os estereótipos, tudo construído ao longo dos anos e que ninguém nunca se preocupou em reeducar a população, para se livrar desse pensamento tóxico.


Enquanto continuarem passando pano para atos como esses e não investirem de verdade em ações que reestruturem o estado, a polícia vai continuar sendo racista, a justiça continuará sendo racista e todas as esferas da sociedade continuarão sendo racistas.


As manifestações também chamaram atenção para o abismo discriminatório da pandemia. Segundo a professora assistente de História e Estudos Afro-americanos da Universidade de Iowa, Ashley Howard, em entrevista à BBC Mundo, os negros são os que mais estão sofrendo com o coronavírus.

A população representa grande parte dos trabalhadores que estão na linha de frente da economia, com empregos em setores de serviços úteis. Mas como dito acima, o racismo é estrutural, então esse grupo social não tem acesso a um sistema de saúde de qualidade, não recebem licença para se recuperarem da doença e não são ressarcidos por dias faltados ao trabalho.


O sistema em geral contribui para que o comportamento racista continue se repetindo ao longo das gerações. Por mais que os protestos e reivindicações aconteçam com mais abrangência, a estrutura nunca muda e sempre se repete, dificultando a luta desses grupos.


E diante toda essa situação, o governo de Donald Trump não parece muito incomodado pelo número de pessoas negras mortas em abordagens policiais. Invés de adotar um discurso que mantenha a paz entre manifestantes e policiais, ele instiga os agentes públicos a revidarem agressivamente, aumentando o abismo entre uma comunicação pacifista e o fim do racismo nas instituições.


No Brasil

O movimento que teve início lá nos EUA também chama atenção para o quadro do racismo brasileiro. 80 tiros em carros de famílias, crianças sendo baleadas no quintal das casas, guarda-chuvas sendo confundidos com armas de fogo. Essas e outras histórias caracterizam a violência policial sofrida no Brasil.


A pandemia também escancara o racismo no sistema. As periferias não tem condição de abrigar a grande parte da população que se abriga por lá, a maior parte do povo dessas comunidades são negros.

Entre tiros e vírus, a vida negra corre mais risco no país, assim como em qualquer outro estado que normaliza o preconceito e a discriminação social. Crianças brasileiras negras morrem aos montes, devido a operações policiais e ao descaso de “patroas” em condomínios de luxo.


Em matéria veiculada pelo Fantástico, no dia 07 de junho, entre os anos de 2017 e 2018, 75% dos mortos pela polícia eram negros. O Anuário Brasileiro calcula que o risco de vida de um jovem negro no país é quase três vezes maior do que a de um jovem branco.


Você não vê um padrão nesses números? Crianças de pele escura aprendem logo cedo a como se “comportarem” diante de uma abordagem policial. Você, que é branco, já imaginou ter que explicar isso ao seu filho?


Para uma sociedade onde todos são iguais, a desigualdade é hilária. E o pior, está enraizada, está na cultura, nos benefícios oferecidos a população, ao acesso à saúde, as escolas de periferia e em todos os outros setores da sociedade.

Os críticos a esse pensamento racista dizem que o Brasil não passa por isso, que tudo por aqui vive na maior paz. Mas enquanto isso, policiais fuzilam vidas negras por aí, sem justificativa.


O branco no país sofre do nacionalismo da mesma forma que nos EUA. Eles querem dominar um país que não é deles de origem, querem se denominar donos de terras que nunca foram deles e isso se perpetua até hoje.


Os gritos por “Black lives Matter” agora mais do que nunca precisa ser escutado e respeitado ou vamos voltar a uma realidade onde negros morrem em periferias e abordagens policiais e o resto da sociedade fecha os olhos diante disso?


Fonte: G1 | El País | Fantástico


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