Você não os vê, mas os ingere diariamente, sendo contaminado de todas as formas imagináveis
O Brasil atingiu em julho deste ano a marca 262 agrotóxicos liberados para uso em plantações e com isso bateu o recorde de substâncias permitidas durante o processo de plantio e colheita das fazendas brasileiras. Antes mesmo da liberação, o país já ocupava o primeiro lugar no ranking de países que mais consomem agrotóxicos, de acordo com um levantamento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, com números de 2013.
Mas afinal, o que são agrotóxicos? Essas substâncias que ouvimos há meses são conhecidos também como defensivos químicos e são utilizados na agricultura, para controlar insetos, doenças ou plantas daninhas que causam danos às plantações. Muitos fazendeiros recorrem a esses meios para que a produção seja mais efetiva, sem danos, gerando mais produto e assim mais renda.
Apesar de ser um produto altamente tóxico, ainda mais ingerido em grandes quantidades, no Brasil, só nos últimos 10 anos, houve um aumento de 190%, de acordo com dados da Anvisa. O crescimento se dá ao fato de agricultores e políticos se preocuparem mais com o lucro do que a saúde de terceiros. No país, ainda se usam agrotóxicos que já foram banidos de grandes continentes, como na Europa, ou se utilizam quantidades 10 vezes maiores do que a utilizada em países de primeiro mundo, o que é o caso de resíduos de glifosato, encontrado no grão do café.
E se não bastasse os resíduos em excesso que são encontrados nos alimentos, o agrotóxico é um veneno que se instala na terra, no ar e chega aos lençóis aquáticos, poluindo e contaminando até aqueles que evitam alimentos produzidos em grandes escalas e escolhem alimentos orgânicos. Entre 2007 a 2014 foram registrados 34.147 notificações de intoxicação por agrotóxicos no país, sendo que, de acordo com pesquisa do Programa de Análise de Resíduos Agrotóxicos em Alimentos (PARA), da Anvisa, um terço dos alimentos consumidos pela população está contaminado por esses agentes.
E, por mais que você tenha sua própria plantação, e consuma apenas os seus alimentos, essas substâncias estão presentes na água que se toma todos os dias, sendo transportadas pelos rios e até mesmo por nuvens de chuva, uma vez que a pulverização dos agrotóxicos, algumas substâncias pelo menos, são realizadas com aviões, para alcançar todos os hectares das plantações.
O veneno também está presente no leite materno, uma vez que a mãe consome produtos envenenados e transmite isso ao filho na hora da amamentação. Esses agentes externos colaboram no quadro de doenças tanto em crianças como adultos. Diversos casos de câncer, tumor ou outras enfermidades, tem ligação direta com o excesso de agrotóxicos na comida ou também no ambiente em que se vive.
Sem contar que o uso da substância também contribui para outras mudanças no corpo, interferindo na saúde da população, como o aumento ou a falta de hormônio, causado pelo alto consumo de venenos em alimentos diversos. Também pode ser observado em crianças que tem problema para se desenvolver, devido ao contato com os agentes antes do nascimento ou até mesmo nos primeiros dias de vida. Eles também interferem na saúde de quem está longe das produções agrícolas, causando intoxicações alimentares, alergias e outros.
A liberação dos produtos impacta não só na saúde do ser humano, como também interfere no desenvolvimento do ecossistema. Um exemplo disso é o agente que usa o princípio ativo sulfoxaflor, que controla insetos que atacam frutas e grãos, como a mosca branca e o psilídeo. Esse veneno está ligado à redução de enxames de abelhas, que contribui com a diminuição de polinização, que é quando as abelhas levam o pólen de uma flor à outra, para que elas possam se reproduzir e assim continuar sua produção, sem que entrem em extinção.
Não só a abelha, como muitos outros insetos, tem um papel importante no desenvolvimento na fauna e, com o uso de agrotóxicos e o extermínio dessas espécies, fica cada vez mais difícil levar a diante o crescimentos de plantas, frutas ou até mesmo grãos que são vitais para a nossa alimentação e nossa sobrevivência. Sem contar que o uso excessivo desses agentes torna o solo infértil, impossibilitando o crescimento de uma nova plantação.
A saída para a diminuição da emissão desses agentes, assim como uma alimentação mais saudável e uma descontaminação, seria o incentivo a uma produção mais orgânica, visando o bem de todos e não apenas o lucro da produção em grande escala, mas, o que temos visto nos últimos dias leva-nos a pensar que esse não é o foco dos grandes fazendeiros e produtores de alimentos, que visam ganhar mais a custa da população doente.
Fonte: G1 | Revista Galileu | Brasil de Fato
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